29.7.10

 

Memórias Amargas


Indico abaixo o endereço de uma peça formidável da saga dos Portugueses, no final da sua Epopeia Ultramarina, iniciada com a conquista de Ceuta, em 1415, no longínquo século XV.

Pelo endereço indicado, podem ver um episódio dramático da Guerra de África dos Portugueses, no Teatro de Operações ( TO ) da Guiné.

Considero este pequeno filme um documento notável, pelo realismo, pela seriedade, pelo drama, pelo esforço ali vivido, ali despendido, infelizmente, em vão, por inépcia política de uns, que prolongaram a Guerra para lá do admissível, sem iniciativa política apropriada, e pela inconsciência de outros, que rapidamente alijaram encargos, sem cuidar de responsabilidades mais vastas para com Povos que confiavam na Administração Portuguesa, que se bateram integrados na Nossas Tropas, contra a Guerrilha independentista, alguns deles com bravura e eficácia combativa surpreendentes.

Pelo menos em relação a estes, Portugal deveria ter dado cobertura plena, diplomática, incluída, oferecendo-lhes a nacionalidade, se assim o desejassem ou obtendo garantias de não retaliação, de ausência de vinganças ou de discriminações, da parte das Novas Autoridades, saídas da Independência.

Como se sabe, nada disto foi feito, mas aqui a História já começou a preencher o absurdo vazio, com julgamentos mais serenos, separando o trigo do joio.

Hoje, grande parte da Nação Portuguesa, especialmente a mais moça, ignora, quando não despreza, o sacrifício das gerações passadas.

O vespeiro da Guiné em que Portugal se manteve durante onze penosos anos foram de facto uma prova do anacronismo político que dominava o País.

Tudo aconselharia a uma atitude diferente relativamente à situação dos outros territórios, desde logo pela irrelevância económica da Guiné. O apego aqui era absolutamente de ordem ideológica, desenquadrada do tempo que se vivia, que exigia visão muito mais pragmática. Mas talvez fosse impossível esperá-la de um político como Salazar firmado na mentalidade de Cruzado na sua luta inquebrantável contra o Comunismo Internacional.

As oportunidades foram-se perdendo e, sobretudo na Guiné, o esforço tornar-se-ia absolutamente inglório. Nem a saída se processou com honra, abandonando Portugal centenas de militares indígenas, que se bateram denodadamente ao seu lado, contra a guerrilha do PAIGC, ao longo dos onze anos do conflito.

Estes e os mais dos infelizes dos guineenses das várias etnias, lá ficaram, então, entregues à sua propagandeada "República Popular", ao seu atraso, à sua miséria, à prepotência de uns quantos enriquecidos no narco-tráfico, numa desgraça sem nome, sem horizonte de esperança...

Porque uma coisa é andar a correr pela mata africana, manejando armas, espalhando metralha, montando emboscadas, colocando minas e, depois, fugir rapidamente, até para abrigo estrangeiro, dada a particular exiguidade do território, na Guiné; outra, muito diversa, é ter de administrar um território de parcos recursos, habitado por múltiplas etnias, de variados credos e obediências, em estado de quase absoluta carência, marcado por crendices, sem sentido de pertença a entidade superior à da sua etnia, com analfabetismo generalizado e, de tudo isso, erguer uma Nação, organizar um Estado, com as suas funções típicas de soberania, na Defesa, na Educação, na Saúde, na Economia, etc., etc.

E aqui o falhanço foi imenso, tanto que, 36 anos depois, o retrocesso é evidente, não havendo já praticamente Estado, mas um arremedo de exercício de autoridade, por parte de grupos armados, que, rotativamente, ocupam o Poder, matando os líderes rivais, também em regime de rotatividade...

Ao ver este pequeno filme, quase me custou a engolir, tal o nó sentido na garganta...

Nota-se, no entanto, que a tropa portuguesa aqui presente teve bom comportamento militar, reagindo ao ataque com determinação, com serenidade, repelindo o inimigo, ao mesmo tempo que tratava dos seus mortos e feridos.

Vê-se também que os militares portugueses aqui envolvidos já tinham experiência deste tipo de confrontos.

Não há ali lugar a histerias, nem a pavores paralisantes. Há consciência do perigo, mas determinação em o vencer, respondendo ao fogo inimigo, pondo-o em fuga.

Pouco depois, o Comandante-Chefe - Gen. Spínola - visita o local da emboscada, arriscando também a sua figura, conforta os homens e dá-lhes alento para continuar. Esta atitude do Gen. Spínola, segundo dizem todos quantos com ele conviveram, em ambiente de Guerra, era frequente, pelo seu timbre de militar, garboso, no porte, mas também nas acções.

Daí o respeito que lhe tinham todos, ou seja, reconheciam que ele agia como um verdadeiro Comandante, um Líder, que não baseia a sua autoridade apenas na sua superior posição hierárquica, mas está presente, nos bons e nos maus momentos, dando exemplos verdadeiros de coragem, arrostando perigos, ajudando a vencer obstáculos.

E aqui reside toda a diferença entre ter ou não ter Carisma de Líder. Spínola tinha esse raro Carisma. Por isso, lhe deram o Comando da Situação, em 25 de Abril de 1974, apesar de não ter preparado o Golpe. Por isso, foi o Presidente da Junta de Salvação Nacional, saída da Revolução.

Infelizmente, a sua preparação política para o exercício do cargo de PR não era semelhante à sua valia militar, como depois se veio a comprovar. Porém, como militar, não devemos poupar-lhe elogios.

Nesta matéria, como de resto em tudo o mais, na vida :

A cada um a sua culpa.


AV_Lisboa_29-07-2010

Ver :

ESTE DOCUMENTO HISTÓRICO FEITO POR UMA EQUIPA DE TELEVISÃO FRANCESA, EM PLENOS ANOS SETENTA DO SÉCULO PASSADO.

http://www.ina.fr/playlist/sport/ma-premiere-selection.248492.fr.html

Guerra Na Guiné Poruguesa - anos 60/70) ...

22.7.10

 

Completando a Notícia do Público de Hoje, 21-07-2010, sobre o Iminente Encerramento da Escola Secundária Afonso Domingues



O Público trazia hoje a notícia do iminente encerramento da Escola Secundária Afonso Domingues, estabelecimento centenário, que formou gerações de Técnicos, Profissionais de excelente formação, muitos dos quais fizeram carreiras de sucesso nas Empresas, na Administração Pública e Privada, como Investigadores, Engenheiros, Professores Universitários, etc., em variadíssimas funções úteis para o País, que, sem esta Escola, ficará certamente mais pobre, mais carecido de instrumentos de Formação Técnica e Profissional.

Quando se conhece o panorama geral dos estabelecimentos de ensino actuais, em que predominam pavilhões de pré-fabricados, edificações precárias, que ao cabo de poucos anos se acham degradados e com aspecto de velhos barracos, dói saber que a inconsciência governamental se apresta a destruir algo de sólido, digno e com provas dados ao longo de muitas décadas, atravessando regimes, modas e caprichos políticos.

Triste País que tais responsáveis alberga, fazendo a qualquer um descrer do seu futuro, não já a longo prazo, mas mesmo para os tempos mais próximos que se podem sombriamente entrever.

Se a infeliz decisão não puder ser travada, sofreremos todos as suas nefastas consequências.

Para compensar a escassa informação do jornal Público, vou transcrever aqui a Exposição que a Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues, nome anterior da actual Escola Secundária Afonso Domingues, tem remetido a alguns órgãos da Comunicação Social, depois de o ter feito junto de órgãos de soberania do Estado Português, até ao presente sem resultado, na esperança de que o assunto seja conhecido, averiguado, esclarecido e, finalmente, que tal possa levar a uma derradeira tomada de consciência que permita a anulação da tão despropositada decisão da extinção da Escola.

Nesta convicção, aqui publicito a digna diligência da meritória Associação Cívica :


EXPOSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA INDUSTRIAL AFONSO DOMINGUES ( AAAEIAD ) :

A Direcção da Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues (AAAEIAD), consciente da sua missão, defensora do valioso património histórico-cultural da velha e reputada Instituição a que deve a sua origem, vem junto de V. Exas., expor uma situação que gravemente a preocupa, relacionada com o futuro da Escola Secundária Afonso Domingues, nome actual da Escola legítima sucessora daquela Instituição, para o que solicita de V. Exas., como dignos representantes da opinião pública esclarecida do País, a devida atenção e o correspondente auxílio na divulgação da causa adiante explicitada.

A Direcção da Escola Secundária Afonso Domingues informou-nos recentemente ter recebido uma notificação do Director Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DRELVT), segundo a qual, o Projecto de Construção da futura Ponte sobre o Tejo, a sua denominada 3.ª travessia, irá interferir com a área de implantação da Escola, dado esta se situar dentro do perímetro das obras deste empreendimento, circunstância que alegadamente colocaria em causa a sobrevivência da Escola.

O Despacho de 23 de Março do Sr. Secretário de Estado da Educação, recebido na Escola, em 28 de Abril, com a notificação, pretende apresentar como facto consumado a decisão de extinguir a Escola, achando-se esta assim perigosamente ameaçada na sua existência, apesar de ser uma das mais antigas e prestigiadas escolas do Ensino Técnico e Profissional do País.

Ocorre a sombria ameaça justamente no ano em que a Escola completa os seus mui respeitáveis 126 anos de idade, contados desde a sua primitiva localização, na Calçada do Grilo, para mais tarde se radicar, em edifício próprio, na Quinta das Veigas, em Marvila, no ano de 1956, onde ainda hoje se mantém.

Ao longo deste dilatado período de tempo, prestou a Escola relevantes serviços ao País, traduzidos na formação de profissionais qualificados, nomeadamente, de Técnicos Especializados em múltiplas áreas profissionais, de Engenheiros de diversas especialidades, ligados a funções produtivas, laboratoriais, de projecto e de administração de empresas, incluindo, por ulteriores descobertas de vocação, membros de outras profissões de equivalente relevância social, como as de Juristas, Médicos, Professores dos vários graus de Ensino, incluindo o universitário, Investigadores e até de Escritores, em que avulta o excepcional caso do único prémio Nobel da Literatura, em Língua Portuguesa, atribuído pela Academia Sueca, em 1998, a José Saramago, igualmente seu ex-aluno, factos que não podem os seus antigos alunos deixar omissos, nem, por isso mesmo, permanecer indiferentes ou resignados ante tão inquietante intenção oficial.

Neste contexto, cumpre-nos até assinalar a aparente contradição de tal intenção com as repetidas afirmações do Sr. Primeiro-Ministro José Sócrates que, em várias ocasiões, se tem referido à importância das Escolas deste tipo, bem como à necessidade de revalorizar o Ensino Técnico e Profissional, em geral, numa era de acentuada evolução tecnológica, contexto em que estas Escolas poderão dar forte contributo, desempenhando papel de relevo no objectivo oficialmente fixado que é o do aumento da qualificação técnico-científica dos Portugueses, tão decisiva no futuro, quanto esta qualificação se revela notoriamente insuficiente na actualidade.

Deve relembrar-se que a Escola Secundária Afonso Domingues é portadora de um longo e rico historial, para o qual trabalharam gerações sucessivas de Docentes, Discentes e funcionários.

Entre o seu Corpo Docente histórico, contam-se nomes ilustres, de que se destaca, naturalmente, o de José Pedro Machado, seu Professor insigne, temporariamente Director em Exercício, acumulando funções, Académico de Mérito da Academia Portuguesa da História, Lexicógrafo e Filólogo de prestígio nacional e internacional, membro de diversas Instituições Científicas e Culturais, em Portugal e no Estrangeiro, distinguido com vários títulos e condecorações, entre as quais avultam a de Grande Oficial da Ordem da Instrução Pública, em 1996, a da Medalha de Mérito Cultural, outorgada pelo Ministério da Cultura Português, em 1999 e a última, atribuída em 2007, pelo actual Sr. Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, a título póstumo, por iniciativa da nossa Associação que submeteu a respectiva proposição à Chancelaria das Ordens Honoríficas, a de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, prémio cimeiro de reconhecimento por tanto labor cumulativamente despendido em favor desta Escola, de milhares de estudantes que profissional e civicamente nela se formaram e da Língua e Cultura Portuguesas, cujo património significativamente engrandeceu.

Outros nomes conceituados de Professores aqui leccionaram como Poole da Costa, Sousa Monteiro, Roseira Abrunhosa, Matias Filipe, Carmen Falcão, Mesquita Spranger, Belarmino Barata, Almeida e Brito, entre muitos mais que igualmente contribuíram para elevar a reputação da Escola.

Para além de todos os seus valores patrimoniais culturais, conserva a Escola em si um apreciável património de bens e de infra-estruturas, dispondo de valências importantes em quase todas as áreas úteis para o Ensino, particularmente o do ramo Técnico-Profissional, bem como para actividades circum-escolares, nomeadamente as de educação física, desportivas e de recreio.

A Escola actual construída, como referido, em 1956, possui no seu activo um conjunto sólido de edifícios, concebidos de raiz, em que se distingue o seu edifício principal, de três andares, contendo largo e nobre átrio de entrada, dotado de amplas Salas de Aula, Secretaria e Sala de Docentes espaçosas, com Laboratórios apetrechados para as aulas práticas das disciplinas de Ciências Naturais e Físico-Químicas, Salas de Informática, Gabinete de Associação de Pais, Salas de Directores de Turma e de Recepção de Encarregados de Educação, a que segue a Reprografia/Papelaria e o Bar/Café para toda a comunidade escolar, a que se liga extensa ala com o seu Parque Oficinal, onde funcionaram os antigos cursos de Formação de Carpintaria, Serralharia Mecânica e de Montadores Electricistas e onde, hoje, com adaptações, funcionam duas Oficinas de Electrónica, duas de Electrotecnia, um Laboratório de Metrologia, outro de Mecânica Teórica, outro de Máquinas Eléctricas e mais três Laboratórios de Electrotecnia/Electrónica e vários armazéns, além de Salas de Aula, de Informática e de Convívio de Alunos e outras dependências em que se ministram hoje os novos Cursos Profissionais de Electricidade, Electrónica, Informática e de Computadores.

Dispõe ainda a Escola de outro edifício sólido e amplo onde funcionam, no rés-do-chão, um desafogado Refeitório para alunos e funcionários, Sala de Convívio de Alunos, Instalações Sanitárias, Sala de Ténis de Mesa e Musculação, balneários de apoio ao Campo de Ténis e, no primeiro andar, um Ginásio de adequadas dimensões para a prática de disciplinas de Educação Física e Desportivas, balneários adstritos, bem como Gabinetes de Educação Física e de Orientação Escolar e Profissional.

Em áreas circundantes a este último edifício, estão localizados campos de jogos, igualmente bem adequados à prática desportiva ou da ginástica ao ar livre e um amplo parque de estacionamento automóvel. A tudo isto, acresce a existência de uma significativa área arborizada e ajardinada envolvente, o que torna esta Escola, em si mesma, um conjunto de apreciável valor arquitectónico e funcional, cujo património cumpre valorizar e preservar.

No âmbito sócio-cultural, deve ainda ter-se em consideração que a Escola, inserida no seu meio actual, funciona com uma espécie de âncora social de relevante efeito coesivo, dado situar-se numa área envolvente bastante deprimida, de profundas carências sócio-económico-culturais, como decerto o reconhecerão os executivos autárquicos das freguesias vizinhas, condições que inevitavelmente se agravariam, acaso a Escola dali desaparecesse. Sabe-se também que o Projecto da 3.ª travessia do Tejo se encontra temporariamente suspenso e, nas presentes condições financeiras do País, de imperiosa contenção orçamental, poderá sofrer sucessivos adiamentos, quiçá vir a ser abandonado. Na última reunião geral da Associação de Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues, realizada, nas instalações da ESAD, em 22 de Maio pp, foi também aprovada uma Moção que manifesta o desejo da continuação da Escola, bem como sublinha a sua alta relevância no debilitado contexto do Ensino Técnico e Profissional nacional.

Todos os argumentos que oficialmente têm sido invocados para justificar o encerramento da Escola nos parecem frágeis, i.e., pouco convincentes e naturalmente susceptíveis de contestação.

Resumimos, por isso, em seguida, os argumentos já esboçados que directa ou indirectamente chegaram ao nosso conhecimento e acrescentamos outros, em reforço dos já antes expressos, como destacado testemunho do nosso empenho na luta pela sobrevivência da Escola :

1 – Número escasso de Alunos : a Escola Afonso Domingues tem tido nos últimos anos um número de alunos semelhante e até superior ao das suas congéneres : Marquês de Pombal e Fonseca Benevides;

2 – Eventual obstrução à construção da nova ponte sobre o Tejo : como já referido, o Projecto da nova travessia encontra-se suspenso e, na presente conjuntura de dificuldades financeiras, tal projecto não se vislumbra exequível nos anos mais próximos, nem de resto, cremos que a Escola oferecesse real obstrução ao mesmo, sendo sempre tecnicamente possível contornar a área adstrita à Escola, no seu todo ou pelo menos em parte;

3 – Reorganização da Rede Escolar : depois da suspensão oficial do Projecto da nova ponte sobre o Tejo, a Escola Secundária Afonso Domingues viu-se confrontada com novo motivo para a sua iminente extinção, que, desta feita, resultaria da necessidade de levar a cabo mais uma reorganização da rede escolar, argumento mais que frágil, por vago, indefinido, que poderia também ser invocado para eliminar qualquer outra escola ou sustentar qualquer outra medida administrativa do Ministério da Educação.

4 – A distribuição dos seus actuais alunos por Escolas situadas na sua vizinhança não nos parece possível, dada a especificidade dos Cursos ministrados na Afonso Domingues, havendo até um dos Cursos que só nesta Escola existe;

5 – Preservação de Património : tal como já previsto para os edifícios de interesse histórico situados nas proximidades da Escola, a seguir enumerados :

1- Convento da Madre de Deus
2- Palácio dos Marqueses de Nisa / Paço de Xabregas
3- Convento de S. Francisco de Xabregas
4- Palácio dos Melo da Cunha / Palácio de Xabregas
5- Quinta do Grilo / Quinta Leite de Sousa
6- Igreja e Convento do Grilo
7- Palácio dos Duques de Lafões
8- Igreja e Convento do Beato
9- Companhia de Moagem Portugal e Colónias
10- Palácio da Mitra
11- Palácio dos Senhores das Ilhas Desertas

deverá também o edifício da Escola Secundária Afonso Domingues ser incluído no conjunto do Património local : histórico, arquitectural e cultural a preservar.

Cabe aqui mesmo perguntar : se todos estes edifícios foram poupados, por que razão a Escola Secundária Afonso Domingues terá de ser destruída ?

6 – A Escola Afonso Domingues não deve ser utilizada para quaisquer outros fins que não aqueles para os quais ela foi criada, ou seja, para o Ensino Público Técnico e Profissional, de que o País tanto carece, como, de resto, por diversas vezes, o actual Primeiro-Ministro tem publicamente reconhecido e afirmado;

7 – A Escola, para além de todo o seu digno historial, em parte já brevemente aludido neste documento, ostenta um nome ilustre da nossa memória colectiva, Afonso Domingues, Mestre incontestável da obra que celebrou a vitória dos Portugueses sobre os Castelhanos nos campos de Aljubarrota em 1385 e que veio a ser o Mosteiro da Batalha, jóia rara da nossa arquitectura, património inestimável do País, orgulho de todos os Portugueses, factos que devem continuar a ser rememorados, nomeadamente, pela preservação da presente Escola, aqui alvo privilegiado da nossa atenção.

Que possamos ainda vir a dizer, tal como o nosso mui competente e denodado Mestre Afonso Domingues o garantiu, sentado, sozinho, durante três dias, como reza a História, sob a magnífica abóbada do belo e imponente Mosteiro : A Escola não caiu, a Escola não cairá !

Reiteramos, por conseguinte, o nosso apelo para que a presente exposição obtenha a maior divulgação possível junto da opinião pública, ampliando, desta forma, os esforços de todos os Professores, Empregados, Alunos, Encarregados de Educação e demais amigos da actual Escola Secundária Afonso Domingues em luta pela sua sobrevivência, no quadro do nosso já depauperado universo de estabelecimentos do Ensino Técnico e Profissional, de que a ESAD é importantíssimo instrumento de afirmação.

Lisboa, 15 de Julho de 2010

A Direcção da Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial Afonso Domingues, com sítio na Internet em www.aaaeiad.com


Fim da Exposição da AAAEIAD

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Dê-se, então, a maior divulgação possível à presente Exposição.


AV_Lisboa, 21 de Julho de 2010

19.7.10

 

Meditando a Crise

Continuando a reflexão e respondendo aos meus preclaros leitores-comentadores.

Em complemento do que aqui afirmei nos dois anteriores escritos direi :

Uma das maiores preocupações dos cidadãos portugueses deveria ser a degradação das suas elites.

O facto de as nossas elites estarem a evidenciar cada vez mais sinais de debilidade, sobretudo cívica, com notória ausência de sentimento patriótico, não pode deixar de causar consternação, porque serão elas, tal como forem, que orientarão o País.

Sem ideias, sem orgulho próprio, sem sentido de pertença, ou com afinidades equívocas, que o mercenarismo em que vivem, oportunamente vai fomentando, desligadas do sofrimento do Povo a que julgam já não pertencer, como podem estas elites fazer progredir o País ?

Acresce que elas, na verdade, têm francamente progredido, como em nenhum outro período da nossa História, excluindo os momentos faustosos de parte dos séculos XV e XVI, com os Descobrimentos, as conquistas e o comércio das Especiarias e, também no século XVIII, com o ouro do Brasil, sobretudo, nunca as elites nacionais beneficiaram de estatuto tão elevado, de tanto desafogo económico, de tanta mordomia, como as presentes, desde a adesão do País à União Europeia.

Estas elites salientam-se principalmente no mundo da Gestão das grandes Empresas, dos Negócios, das Empresas de Consultoria, de Marquetingue e de Imagem, sendo raras as que fundaram o manancial da sua respectiva fonte de bem-estar.

É muito mais corrente a entrada no eldorado da dita Alta Gestão, por amiga mão política ou por outras afinidades de interesses, às vezes ridículas e sem qualquer relação com os cargos para que os felizardos destas ditas elites são nomeados.

Se esta gente lucra pletoricamente, apesar da pauperização progressiva do País, não será expectável que da sua iniciativa venha alguma acção reformadora, menos ainda se esta comportar algum risco.

Daí que o motivo de preocupação seja absolutamente sério.

Com um Sistema de Ensino grandemente destruído, incapaz de bem formar cidadãos no plano técnico das profissões, incapaz de forjar cidadãos conscientes dos seus deveres, da sua missão no seio da Comunidade em que nasceram, das suas obrigações para com as gerações que os antecederam, o País vê-se abandonado a si mesmo e presa fácil da voracidade das suas falsas elites.

Anulados os que se mostrem mais rebeldes a esta realidade, ao mesmo tempo que se intensifica a alienação da grande massa do Povo, o caminho para o definhamento colectivo parece garantido e é isto o que temos comprovado nos últimos decénios, com a complacência, se não com a incentivação, das nossas supostas elites, espantosamente predadoras.

A esperança em que as instituições estrangeiras, nomeadamente, a União Europeia, a que politicamente pertencemos, nos conduzam ao bom caminho, às escolhas de vida acertadas, tem-se revelado também ilusória.

Ainda há pouco, o nosso magnífico Durão Barroso, lider máximo desta UE, nos admoestou secamente, por termos feito aquilo que vários outros países-membros da União têm feito para defender interesses próprios ou que reputam estratégicos para as suas Economias.

Nesta atitude de Barroso ficou bem patente a quem ele deve a sua preeminência.

Para a nossa regeneração, deveremos contar sobretudo connosco, com as nossas forças, como diziam os exaltados maoístas do meu tempo, certamente com Barroso à cabeça, embora deste desvario eu já não o queira responsabilizar, por o atribuir àquela onda de loucura que nos varreu a todos, principalmente os mais moços de então, que naturalmente se deixaram fascinar por ideologias que prometiam o Paraíso na Terra.

Já com outros, bem mais maduros, que tinham visto Mundo e nada disseram, nem fizeram para estancar aquela loucura política, não sou tão complacente.

Mas voltando à crise actual, sem uma verdadeira tomada de consciência individual, sem o esforço efectivo de cada um, não vejo possível a redenção colectiva.

E pouco creio na salvação adventícia, porventura promanada de Bruxelas, sem aquela prévia disposição individual, a gerar a recuperação colectiva...
Mas, às vezes, a necessidade aguça o engenho.


AV_Lisboa, 18 de Julho de 2010

15.7.10

 

Sobre as Novas Comparações Odiosas


Respondo aqui ao leitor Jorge Oliveira :

Caro Leitor Jorge Oliveira,

Agradeço a visita e os comentários, que, em grande parte, acolho.
Apenas acrescentarei o seguinte :

As famílias ou as ditas elites que hoje dominam o País só diferem das do tempo da Ditadura em que são mais predadoras, cínicas, egoístas, mais mal preparadas tecnicamente e eticamente mais deformadas, intitulem-se elas democráticas, social-democráticas, centristas ou socialistas, estas últimas ainda piores, por mais hipócritas. Isto para só falar das do arco dito democrático.

Os Partidos, todos eles, falharam rotundamente, repetindo os erros da Primeira República, pelos quais haveríamos de sofrer a inexorável Ditadura. Tornaram-se novamente agências de emprego, instrumentos de assalto ao Poder, jogando a farsa democrática, com o que delapidaram o País, destruindo a confiança dos cidadãos.

Estes encaram agora um futuro sombrio e deixaram de acreditar nos líderes políticos, nos Partidos e nas instituições, em geral, apenas se motivando, melhor diria, excitando com o dinheiro e com o sexo, rapidamente consumidos.

E todo o problema está em como iremos sair desta degradação nacional, sem ninguém em quem confiar verdadeiramente. As escolhas do mal menor têm-nos conduzido à mediocridade reinante, impante de vaidade e de dinheiro, mas vazia de valor.

Já o velho António José Saraiva para isto nos alertava, no fim dos anos 70 do século passado. Levámos tempo a ver o que ele anteviu e agora não atinamos com o remédio adequado para o presente descalabro.

Cada vez tenho mais dificuldade em descortinar saída para isto. Só um grande esforço de redenção, encabeçado por gente de alta credibilidade, técnica e eticamente bem formada, com provas dadas e apertadamente controlada, por organismos a criar, com essa função atribuída.

Mas quem desencadeará tal movimento de Regeneração tão pouco visível, quanto desejável e mesmo imprescindível ?

Aqui fica a permanente questão : que fazer para reerguer este acabrunhado e descrente País ?

AV_Lisboa, 14 de Julho de 2010

13.7.10

 

Novas Comparações Odiosas

Estive este último fim-de-semana mergulhado na leitura de um livro interessante, que, por comparação, mais me firmou na convicção da falta de categoria da actual classe política.

Tratou-se de ler a biografia em forma de entrevista de Rui Patrício, último Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, antes do golpe revolucionário de 25 de Abril de 1974, que pôs cobro ao regime que vigorou no País, desde 28 de Maio de 1926 até àquela data.

O regime que se iniciara por Revolução Militar terminaria da mesma maneira, quase meio século depois.

O livro em causa, com o sub-título «A Vida Conta-se Inteira» da Temas e Debates-Círculo de Leitores, foi elaborado pela jornalista Leonor Xavier, que, ao longo de meses, entrevistou Rui Patrício, em sessões repartidas entre o Rio de Janeiro, no Brasil e Portugal.

A figura de Rui Patrício havia sido alvo de forte chacota nos dias primeiros da Revolução, em que se fazia constar o seu comportamento indigno, amedrontado, dizia-se mesmo que se havia borrado, quando submetido às pressões e ameaças dos militares revolucionários.

Sabe-se como os vencidos são facilmente vilipendiados, sobretudo por aqueles que só assumem atitudes heróicas a coberto do anonimato e com as costas quentes das multidões embravecidas.

Depois da leitura, no entanto, o que sobressai é antes o perfil de um homem digno, inteligente, culto e lutador, que soube vencer as adversidades da vida, a ponto de se apresentar hoje como Administrador e Consultor de Empresas, incluindo de algumas das maiores Empresas portuguesas, nomeadamente nos negócios que estas têm criado em terras brasileiras.

Hoje, com 78 anos, Rui Patrício está de bem com a vida, nota-se, já algo tocado pelo espírito descontraído e folgazão dos brasileiros, orgulhoso do seu triunfo profissional e social, assente na aquisição da dupla nacionalidade, desde 1986, com 6 filhos adultos realizados, com larga diferença etária, provocada pelas vicissitudes da vida, plenamente assumidas e resolvidas com o sopro da fortuna.

Em toda a entrevista, defende sempre com firmeza a política dos Governos em que tomou parte, desde 1965, ainda como Subsecretário de Estado do Ultramar, com Salazar, até aos derradeiros elencos de Marcello Caetano, terminados em 25 de Abril de 1974.

Apenas lhe assinalei uma pequena contradição nas suas declarações em confronto com as de Marcello Caetano, exaradas no seu veemente Depoimento, escrito a quente no Brasil, logo nos primeiros meses do seu forçado exílio.

Caetano, parece-me, terá insinuado a Spínola que preferiria uma derrota militar na Guiné a um acordo de paz, negociado formalmente com o PAIGC, com vista à independência dos territórios da Guiné, quebrando aqui a coerência inicialmente adoptada e repetidamente afirmada relativamente aos restantes territórios africanos, nomeadamente com os de Angola e de Moçambique, de resto, os únicos que, pela sua riqueza, justificariam o esforço militar de Portugal, se assim ele tivesse sido entendido no conflito que Portugal sustentou por treze penosos anos.

As tentativas de negociações, por interpostas pessoas, com os dirigentes do PAIGC, nos primeiros meses do ano de 1974, acabaram por ensombrar essa pretensa coerência política ultramarina conduzida por Portugal desde sempre, primeiro por Salazar e Franco Nogueira e depois continuada pelo governo de Marcello Caetano.

No resto, a fluência e consistência das posições é de regra, constante.

Ressalta como evidência que Rui Patrício, primeiro classificado do seu curso de Direito (1951-1956), na Universidade de Lisboa, tirou bom proveito da sua excelente preparação escolar, já assinalada na fase do Ensino Secundário, no Colégio Moderno, propriedade do pai de Mário Soares, em que fora também o melhor aluno, situação igualmente confirmada na Universidade, onde, depois de formado, seria também Assistente, por convite.

Talvez que por esta excelente reputação escolar tivesse tão cedo sido escolhido para integrar o elenco governativo de um Governo de António de Oliveira Salazar, em 1965, ainda com 33 anos incompletos.

À medida que vamos conhecendo melhor a vida e as personalidades do Antigo Regime, mais nos espantamos com a falta de preparação técnica, cultural e ética do pessoal político da democrática era abrilina.

Patrício e outros apeados do Poder em 1974 puderam refazer as suas vidas profissionais ou académicas, essencialmente porque tinham valor profissional, fundado na boa formação escolar recebida, nos diversos graus de ensino que haviam frequentado.

Contavam por isso com um precioso capital próprio que lhes haveria de valer ao longo da vida, mais do que quaisquer outros activos : dinheiro ou conhecimentos pessoais.

Estes, que hoje nos governam, se acaso perderem as teias de interesses que os mantêm ligados entre si, rapidamente desaparecem na maior obscuridade, por nada de substantivo os aconselhar a alguém ou a alguma instituição.

Parece hoje incontestável que, em Portugal, o pessoal político se tem degradado continuamente, como consequência natural da desarticulação geral do nosso Sistema de Ensino, esvaziado de conteúdo formativo, nas matérias de estudo, como aleijado, na construção do carácter cívico dos Estudantes.

Estes são, no presente, moldados na indisciplina, na promiscuidade e na consequente irresponsabilidade geral, condições que farão deles e delas fracos cidadãos, incapazes ou dificilmente capazes de corresponder à herança dos seus antepassados e às tarefas que terão pela frente.

Podemos certamente assumir que a degradação é manifesta e comprometedora do nosso futuro como Nação, a médio, se não mesmo já a curto prazo.

Ensaiamos, sem o conseguir, imaginar uma figura como José Sócrates membro de um Governo de António Salazar ou de Marcelo Caetano.

Muito menos nos seria possível imaginá-lo como Chefe de qualquer Executivo desse tempo, factos que por si sós nos atestam a decadência entretanto ocorrida nas elites políticas do País.

Nenhuma demagogia logrará, no presente, iludir esta convicção : o pessoal político da Democracia é claramente inferior, sobretudo no plano técnico e no plano ético, ao da Ditadura, como em relação ao que substituiu este último, nos anos imediatamente após o regresso ao Sistema Democrático.

Depois de desarticulado o Sistema de Ensino, com reformas mal pensadas e pior executadas, com mentiras estatísticas instituídas como verdades irrefutáveis, estaremos cada vez mais incapacitados para operar a urgente regeneração do País.

Quanto mais cedo estas verdades entrarem nas nossas cabeças, mais perto estaremos do início da Regeneração.

A opção parece clara, mas a acção tarda em aparecer.

AV_Lisboa, 12 de Julho de 2010


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